domingo, 25 de agosto de 2013

No que eu me transformei?

...eu não me enxergo mais; me transformei naquilo em que me forçaram. Me julgaram e me compararam a um palhaço sínico sem aplausos...


Meus sentimentos e o meu coração endureceram e minha personalidade e todo o entusiasmo que eu tinha pela vida, ficaram pra trás, numa densa nuvem de fumaça monocromática; e no que eu meu tornei? Eu não era mais o mesmo, na verdade, nunca fora eu mesmo.
Sim baby, já passou das onze da noite e eu ainda estou aqui acordado e tão vulnerável quanto as cortinas abertas da janela da sala, bruxuleantes, dançando angustiadas com o vento que lhes tocam - frio,sombrio e só. A saliva desce áspera dentre as paredes da minha garganta e os curtos suspiros me asfixiam. o perfume já não me agrada mais e suo, debaixo de um cobertor, deitado numa cama que mais parece um abismo, profundo, negro,apático. E agora?
"[...] agora só me resta acender um cigarro e ir para casa. Meu Deus, só agora me lembrei que a gente morre. Mas - mas eu também?! Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos. Sim."
(Clarice Lispector - A Hora da Estrela - pg. 87)

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